domingo, 20 de novembro de 2016

Cotas e contos de vista

No Mês da Consciência Negra, seguimos reexistindo, com muita coisa bonita e potente para celebrar porque nossa história é de criatividade e magnitude. Mas sigo acreditando que as datas comemorativas são momentos para conferir visibilidade não apenas às conquistas, mas às travessias que ainda precisamos percorrer. Por isso, no dia em que completam-se 321 anos da morte de Zumbi de Palmares na Serra da Barriga, uma pequena reflexão, inspirada por um choque de realidade que tem circulado nas redes sociais. 



Ao ler os dados que não são novos para quem se interessa, passou um filme na minha cabeça. Precisamos falar mais sobre eles, encarando nossa realidade de frente, deixando de lado vaidades e projetos individuais de ascensão social ...

Pensei, pensei, pensei e resumo aqui questões que me tocam e com as quais tenho aprendido a lidar.

1. O aumento indiscutível de estudantes negros nas universidades públicas e privadas é muito importante. Não é uma migalha, mas uma conquista dos movimentos sociais negros e que, por sinal, está ameaçada. É uma conquista também que alude às nossas formas comunitárias pretas de ser e estar no mundo. A maioria dos estudantes negros que chegam à universidade são os primeiros de famílias inteiras que se mobilizam para ter um filho, filha ou parente "formado".
2. Embora importante, nem de longe o ingresso na universidade é o ponto de partida e de chegada das questões que nos circunscrevem como uma comunidade negra diaspórica ou como um povo preto. Nossa principal pauta segue sendo a LUTA PELA VIDA!
3. Como professora, me deparo diariamente com narrativas muito difíceis e dolorosas de estudantes negros. Narrativas estas que se inserem no racismo acadêmico, formatado na lógica do "aqui não é para você".
- Assédio sexual com estudantes negras chamadas de "mulatas", recebendo convites para jantares.
- Lesbohomotransfobia e racismo, culminando em mortes, evasões, processos administrativos engavetados.
- Preterimentos em seleções de bolsas.
- Ridicularizações das formas de escrita que destoam da norma culta.
- Comentários em sala de aula violentos sobre a Baixada Fluminense, as favelas, os subúrbios e seus cidadãos ("bando", "gang", "desclassificados", "burros").
- Discursos em sala de aula de saudosismo da universidade antes das cotas.
A lista é muito maior, mas por ora basta...
4. De um jeito ou de outro precisamos lidar com o fato de que alguns de nós (ainda poucos) chegamos à universidade e que nela nos esforçamos diariamente para permanecer porque vemos alguma importância ou sentido nessa estadia. 
Pergunta: Qual seria a solução? Ir embora acreditando que o mundo acadêmico não é para a gente?


NÓS POR NÓS
Em minha caminhada, constato com risos e lágrimas, que o trabalho acadêmico é duro, solitário e necessário. Inspirada pela perspectiva do Quilombismo e pelas formas de organização dos coletivos negros universitários tem sido possível dar vida a uma agenda acadêmica negra que passa pela criação de disciplinas, grupos de pesquisa, seleções bibliográficas de autoras e autores que nos representam, atividades de ensino, pesquisa e extensão na graduação e na pós, articulações com movimentos sociais negros. Tudo isso tendo como foco que devemos assumir compromissos individuais em nome da nossa comunidade negra. Contos?



Mulher Negra 24h por dia!
#eunãoandosó
#jovemnegrovivo
#aquilombamentoacadêmico

VALEU DANDARA E LUIZA BAIRROS!








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